quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Universitários protestam contra texto sobre homofobia em SP

Grupo bloqueou rua e faz passeata na região central em resposta a carta de reverendo da Mackenzie contra lei da homofobia


Estudantes e integrantes de movimentos gays realizam protesto contra o posicionamento do reverendo Augustus Nicodemus Gomes Lopes, chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em relação à lei que pretende criminalizar a homofobia. Em nome da instituição, o líder religioso que representa o Instituto Presbiteriano Mackenzie (entidade mantenedora) publicou carta em que cita passagens bíblicas e se opõe à aprovação da legislação. O protesto começou na Rua Itambé, 45, no bairro Higienópolis, em São Paulo, perto do colégio e da universidade Mackenzie, e neste momento o grupo está na Avenida Paulista. O ato provoca congestionamento e confusão no trânsito. As aulas do Colégio Mackenzie também foram suspensas hoje à tarde.


Ato impede a circulação de ônibus eléttricos na Rua Itambé, em São Paulo
Além de terem impedido que cinco ônibus elétricos circulassem, desde que deixaram a rua Itambé os manifestantes se deslocaram pelas ruas Maria Antônia, Caio Prado e Paulista entre os carros. Veículos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e da Polícia Militar acompanham a movimentação que começou por volta das 17h30. Uma das vias da Augusta chegou a ficar tomada por manifestantes, e os carros tiveram que trafegar pela contramão. Agora, na Paulista, o grupo ocupa a pista da direita em direção à avenida Brigadeiro Luís Antônio. A manifestação é pacífica e aos gritos de "contra a homofobia, a luta é todo dia" segue até o número 777 da avenida, onde ocorreu a agressão a jovens na semana passada, supostamente motivada por preconceito contra homossexuais.

"A carta do chanceler é uma enorme ofensa tanto para os alunos como para a comunidade gay. As minorias devem ser respeitadas. A fala dele incita a homofobia", diz Leonardo Nones, 18 anos, aluno de arquitetura e urbanismo da Mackenzie, um dos organizadores do ato, que também conta com a participação de alunos de outras universidades, como Carolina Latini, de 20 anos, estudante de ciências sociais na PUC-SP. A jovem apoia a manifestação e diz que a opinião de um chanceler não representa a instituição.

Para o professor e deputado estadual Carlos Gianazzi (PSol), a universidade não tem direito de reproduzir o pensamento homofóbico em seu site. Em microfone utilizado pelos estudantes durante a manifestação, ele afirmou que vai acionar o Ministério da Educação e Cultura (MEC) para que sejam cobrados esclarecimentos e se abra uma sindicância relativa às declarações do reverendo.


Estudantes são contrários a carta publicada por reverendo condendando a lei da homofobia
Em carta que foi publicada no site da Universidade Mackenzie (leia abaixo), o líder religioso diz que a “cultura está mais e mais permeada pelo relativismo moral e cada vez mais distante de referenciais que mostram o certo e o errado”. Se por um lado defende o respeito a todas as pessoas, independente de escolhas sexuais, por outro reivindica o direito a livre expressão, que seria tolhido se a lei da homofobia for aprovada. A manifestação foi retirada do site na semana passada, depois que a agressão ocorrida em São Paulo supostamente por motivos homofóbicos ganhou repercussão. Em carta posterior, a universidade informou que o pronunciamento era de autoria da Igreja Presbiteriana do Brasil, realizado em 2007.

No fim da tarde desta quarta-feira, durante a realização do ato, o grupo emitiu mais uma nota oficial, na qual afirma que respeita o direito de expressão de todos os cidadãos e reconhece o direito de manifestação pacífica. "Hoje consolidada como uma das instituições de ensino mais conceituadas do país, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, que possui cerca de 40 mil alunos e 3 mil funcionários, sempre prezou pelo respeito à diversidade e pelo direito de liberdade de consciência e de expressão religiosa", diz a nota.

A jornalista e política Soninha Francine (PPS) também prestigia o ato. Segundo a ativista dos direitos dos Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (GLBTs), é ótimo que esse segmento se manifeste. Embora não conhecesse o conteúdo da manifestação de Augustus Nicodemus Gomes Lopes, foi "gritar junto" porque ficou sabendo que haveria um protesto contra a homofobia.

Leia a íntegra do texto do reverendo:

Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia

"Leitura: Salmo
O Salmo 1, juntamente com outras passagens da Bíblia, mostra que a ética da tradição judaico-cristã distingue entre comportamentos aceitáveis e não aceitáveis para o cristão. A nossa cultura está mais e mais permeada pelo relativismo moral e cada vez mais distante de referenciais que mostram o certo e o errado. Todavia, os cristãos se guiam pelos referenciais morais da Bíblia e não pelas mudanças de valores que ocorrem em todas as culturas.

Uma das questões que tem chamado a atenção do povo brasileiro é o projeto de lei em tramitação na Câmara que pretende tornar crime manifestações contrárias à homossexualidade. A Igreja Presbiteriana do Brasil, a Associada Vitalícia do Mackenzie, pronunciou-se recentemente sobre esse assunto. O pronunciamento afirma por um lado o respeito devido a todas as pessoas, independentemente de suas escolhas sexuais; por outro, afirma o direito da livre expressão, garantido pela Constituição, direito esse que será tolhido caso a chamada lei da homofobia seja aprovada.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo de natureza confessional, cristã e reformada, guia-se em sua ética pelos valores presbiterianos. O manifesto presbiteriano sobre a homofobia, reproduzido abaixo, serve de orientação à comunidade acadêmica, quanto ao que pensa a Associada Vitalícia sobre esse assunto:

“Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualismo é homofóbica, e que caracteriza como crime todas essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualismo como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.
Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “. . . desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).

A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.

Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma seu direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo”.

Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie"

Fonte: Marina Morena Costa, iG São Paulo | 24/11/2010 18:39 - l
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/universitarios+protestam+co...

Tags: (GLBTs), Bissexuais, Gays, Lésbicas, Transexuais, Travestis, direitos, dos, e

Nenhum comentário:

Postar um comentário